domingo, 18 de maio de 2008

O Teatro Casa Grande e a Noviça Rebelde

Deixe-me começar esses pensamentos esclarecendo o porque de sua existência.

Sou carioca, ou bahiana ou francesa segundo alguns. Minha família é toda da Bahia, Nasci em Paris e morei no Rio a minha vida toda, ou pelo menos até os meus 25 anos, quando resolvi me entranhar pelo mundo para fazer meus estudos em Física de Partículas Elementares, tentando obter um Doutorado na área.

Mas aqui não quero falar de Física, isso já faz muita parte dos meus pensamentos e já me traz angústias o sufienciente assim como está. Aqui não quero ter essa preocupação, quero falar daqueles pensamentos que me vêm assim, sem pensar, assim sem querer, questões que não consigo responder, observações sobre algo cuja lógica me escapa e que em geral engloba as pessoas, seus comportamentos e suas reações. Às vezes uma pessoa, outras um pequeno grupo, mas na maioria das vezes “a massa”. Aquela mesma, que é comandada por aquele pequeno grupo.

Sempre me surpreendi com a falta de opinião própria das pessoas, e aqui faço questão de me incluir “na massa”, já que às vezes sem perceber acabo me deixando levar pelo comportamento coletivo e me vejo repetindo idéias, opiniões e até gestos feitos por outros. Mas me reconforto achando que isso é inevitável. E me iludo achando que penso por mim mesma. Está aí a razão de existência desses pensamentos. O meu pensamento próprio - a redundância aqui é proposital, caso haja algum literato entre os que lêem esse texto - sobre as coisas que vejo ao meu redor.

Quero deixar claro desde já que não vou falar de nenhuma questão grandiosa ou gloriosa, mas apenas de fatos que me intrigam.

E vou começar com a reabertura do Teatro Casa Grande aqui no Leblon e a peça que escolheram para tal evento, A Noviça Rebelde.


Vamos começar fazendo uma análise da situação. O que representa a Noviça Rebelde e o que representa a reabertura do Teatro Casa Grande. Só de escrever os dois nomes juntos já me espanto por achá-los já tão discrepantes só assim. Mas não quero influenciar-vos com minha opinião por enquanto, portanto farei um esforço para guardar esse pensamento por agora, mas só o tempo de fazer essa análise preliminar da situação.

Pois bem, vamos lá, a Noviça Rebelde. Quem no Brasil não conhece a Noviça Rebelde, ou melhor, quem de uma certa idade não conhece a Noviça Rebelde? Pois é, já mesmo nos meus vinte e nove anos tenho complexo de velha. Aliás pra falar a verdade, tenho complexo de velha desde os quinze...acho que na verdade nunca me inseri “na massa” da minha idade. Mas esse é um pensamento pra um outro dia. Hoje estou mais interessada em discutir sobre a Noviça Rebelde e indagar-vos a pensar sobre o assunto. Pequeno, sim! Mas que já diz muito sobre a mentalidade “da massa” artística do Rio de Janeiro!

Então (vou já advertendo-lhes que uso muito a palavra “então” para retomar uma idéia quase perdida. Se vocês forem pacientes o suficiente para continuar lendo os meus pensamentos, perceberão que quase me perco muito facilmente e adoro parênteses pensativos), como ia dizendo a Noviça Rebelde é um musical que vem dos Estados Unidos e que fez muito sucesso por aqui também. Me lembro claramente de assistir à versão cinematográfica da obra várias vezes enquanto criança, quando a Rede Globo passava-a repetidamente na Sessão da Tarde, meu programa pós-escola predileto, dos 5 aos 8 (?) anos de idade.

É uma história bonitinha, com umas músicas lindinhas que ficaram para sempre na memória de quem gosta do filme. E creio eu que seja referência até hoje. Nem me lembro direito da história, mas lembro muito bem da Julie Andrews e de sua imagem como Noviça Rebelde. Então é isso, Noviça Rebelde = Estados Unidos + hábitos americanos + referências americanas + inglês + muitos anos atrás. E aqui novamente tenho que abrir outro parêntese, já que devo avisá-los também de antemão que fui treinada para ter um pensamento matemático e que equaciono os meus pensamentos o máximo que posso. As equações simplificam as idéias e eu sou por “default” uma pessoa simples.

Espero então que tenham guardado na mente a equação da Noviça Rebelde pois agora explanarei meus pensamentos sobre o Teatro Casa Grande, que na verdade não são muitos, não vou tentar enganar niguém, não tenho tanta informação assim sobre nada na verdade. Sou totalmente ignorante, mas penso, essa é a minha vantagem.

Então, o Teatro Casa Grande. Lembro-me que frequentava muito esse teatro com meus pais, meu irmão, minha tia, minha prima. Lembro até da bruxa de uma das peças que vimos por lá que me fez chorar de medo. Assustadora aquela bruxa! Mas sobre o teatro em si, andei lendo que foi palco de grandes peças, inclusive musicais com música de Chico Buarque e cantada pelo grupo MPB4, além de ser ponto de encontro da juventude que gritava contra a ditadura.

O Teatro Casa Grande, que me lembro muito bem, sofreu um incêndio em 1997, depois de passar anos completamente abandonado (ou pelo menos aparentemente completamente abandonado), que o destruiu. Eu me lembro que até comentei na época com uma de minhas amigas que esse incêndio havia provavelmente sido criminal, para poderem construir o tal shopping que agora o abrigará e que essa técnica já havia sido usada anteriormente no Leblon, para extinguir a favela onde depois se construiu a Selva de Pedras.

Enfim, Teatro Casa Grande = clássico Rio de Janeiro + cultura brasileira + português + voz da juventude carioca.

Então? Você consegue ver onde quero chegar?

O que a Noviça Rebelde tem a ver com o Teatro Casa Grande, minha gente? Alguém pode me explicar por favor?

E alguém viu a foto de divulgação do musical? A atriz principal se fantasiou de Julie Andrews e o ator principal do par da Julie Andrews! Nada contra os atores! Mas não consigo entender. Como assim? Não estamos no Brasil? Qual a relação entre o Brasileiro e a Noviça Rebelde? Se pelo menos tivessem colocado um negão e uma negona pra fazer o papel principal, eu teria me sentido mais próxima do musical! Gente, com tanta peça brasileira boa! Por que um musical super-mega-ultra americano? Não consigo entender, não consigo entender, não consigo entender!!!!!!

Eu com certeza não vou assistir a esse musical. Vou ficar me perguntando qual a razão de produzir tal peça quando existem tantas outras muito mais brasileiras e muito mais próximas das pessoas que vivem aqui.

É claro que tem toda aquela discussão de que arte é arte incondicionalmente. Eu até concordo, se duvidar até já li mais livros de autores estrangeiros do que brasileiros. Mas é que realmente eu gostaria de ver mais arte brasileira. Boa, é claro.

É por isso que ao invés de ir assistir à Noviça Rebelde, vou à galeria do Ernesto Neto.

É isso aí, desaguei meus pensamentos aqui. Eu que achava que fosse me acalmar ao fazer tal, me enchi de outros pensamentos sobre os quais também me enlouqueço para falar!

São muitas questões.

2 comentários:

Fernando de Simoni disse...

Muito bom ;)

nevasca disse...

Bela estréia prima!! Vou aguardar seus pensamentos sobre a Ana Carolina hein? hehehehehe